quinta-feira, julho 11

Já vi o sol...


Já vi o sol ir embora muitas vezes, talvez demasiadas vezes na vida. Mesmo com tanta experiência ainda dou as minhas calinadas, ainda solto milhares de lágrimas que em todo o meu percurso sobrevivência neste planeta não chorei porque queria ser forte, ou parecer forte. Sofro de dores por todo o corpo frágil e quando não é o corpo é a memória que me prega das suas ou das dela, como se insinuasse que a culpa é minha, que é minha porque no passado fiz sofrer ou disse algo que alguém não deveria ter ouvido.

Como gostaria de ter os meus pais do meu lado, quem me dera que ainda fossem vivos e pudéssemos conversar como adultos, como velhos que seriamos todos juntos. Seguia-os sempre, mostraram-me o mundo à sua maneira e sempre lhes tentei mostrar o meu. Raramente esperavam algo de mim, apenas um sorriso sincero e caloroso capaz de lhes aquecer o coração que se ia ficando pelo gelo da idade.

Mas o pior talvez seja ver a família e os amigos partirem antes que lhes possa dizer o que realmente são para mim. À medida que vou envelhecendo senti o peso da morte no coração, a qualquer momento também eu posso ir desta para pior. Tenho setenta e três anos e já vi muita coisa. Deparo-me com filhos e netos e parece que serei o próximo pai a ir embora, o próximo pai a deseja as maiores felicidades aos seus filhos e netos, aos seus descendentes vivos. Ficando sempre com uma pena de que quando isto tudo acabar, não poderei ficar para ver crescer os netos  e as voltas nas suas vidas. Apodera-se de mim uma pena por não chegar a ter os filhos com a minha idade enquanto for vivo, julgo eu com esta velhice avançada. Queria tê-los com a minha idade, cada um avô e avó.

Estas memórias são só para não me esquecer de quem fui e sou, pois o mundo à volta mudou.

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