sábado, março 17

Os escritores representam duas vezes...


Os escritores são como os actores que vivem e sentem as palavras escritas. Com a diferença que estes criam as suas personagens, as suas outras dores, os seus outros problemas, as memórias que são suas misturando-as com as memórias de outro alguém que não ele. Pegam nas lembranças e representam, actuam e dão voz a personagens que não existem, a vontades e a desejos, a sonhos e a demónios que a imaginação cria. 

Perpetuam a vontade de viver, com palavras e com outros nomes que não os seus. Auto-recriam-se a cada personagem, avaliam-se a cada acção, inventam-se de maneiras fechadas, quase como se brincassem com uma caixa de areia, mas uma caixa de areia com certos traços, com certas características que lhes dá a possibilidade de meter acções, sentimentos, vontades, sonhos e palavras em bocas que não as deles. Dão vida ao que poderá existir fora dessa caixa, com caras semelhantes, vozes ou até pesadelos. Transformam a areia em emoções, transformam-na em palavras fáceis de serem sentidas.

Os escritores representam duas vezes: Uma a imaginação da criação, a outra quando a representam...

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