A cara...

Hoje passeio pelas ruas. A cara não me importa, apenas o que os olhos chegam a ver. Quero dizer, para mim a minha cara, o meu rosto é sem forma, sem jeito de existir. É como se não a tivesse. talvez apenas existissem estes dois olhos com que vejo o mundo de outras e maravilhosas maneiras. As maneiras que me fazem ter inveja do mundo de ser tão natural que o acho sempre tão bonito, até mesmo quando arde, quando se levanta e se manifesta contra tudo. Quando faz o mundo parar para o escutar, mas ninguém o ouve. Ninguém quer saber o estado em que deixamos o seu rosto.

Na multidão, sou apenas mais uma pessoa, mais um rapaz vestido a olhar as montras na tentativa de por acaso comprar alguma coisa, ou ficar maravilhado com outra completamente diferente. O que importa são os olhos. Aquilo que os olhos vêem e não o que o rosto faz passar. Porque afinal, olha-se nos olhos, olha-se para os lábios, não para o rosto como um todo quando tentamos comunicar uma ideia, uma reprova de pensamentos ou uma aprovação dessas mesmas ideias.

Sou mais uma pessoa no mundo, mais uma pessoa com o rosto vazio na mente de alguém. Sou a pessoa sem rosto para alguém que se esqueceu de mim, que me viu e não ligou ou tomou atenção. De tantas caras que tive, apenas uma ou duas permanecerá por aqui.