terça-feira, setembro 6

Um dia também eu fui assim.

Ouço gritos ao longe. Todos eles são de crianças. Estão lá os adultos, mas as suas vozes perdem-se naquele amalgamar de vocês infantis. Passo por entre as crianças. Olho para elas. A sua inocência, aquele seu ar alegre, a leste de tudo o que se passa no mundo. Olham-me de alto a baixo. Tratam-me como um estranho, metem-se comigo. Falam de mim sem se aperceberem que isso um dia lhes irá custar muitos sermões ou alguns problemas. Olham-me, e eu olho-os. Cara rechonchuda, olhos pequenos, mãos gordas e cheias de terra. As cores nas batas predominam naquele vasto manto verde. Tenho certas saudades da infância. Saudades de não ter que pensar em trabalhar, de não ter que arranjar um emprego, de me levantar cedo como os papás. Não tinha de fazer muitas das coisas que hoje faço. Teria talvez pena de não ter começado a escrever mais cedo. Hoje a vontade de brincar com o lego é pouca, de brincar com os carros também, de ir para a rua jogar à bola também. Hoje temos a namorada que nos ocupa metade do tempo e isso sim é um bom passatempo. Conhecer outra pessoa que não nós. Mesmo assim irei ter saudades de me levantar cedo e sem sono algum, espetar-me diante da televisão que na altura só tinha os quatro canais, e via a manhã toda os bonecos que por esses quatro canais davam o dia todo. O fim de semana continua a ser o meu preferido.

Um dia também eu fui assim. Com a inocência no corpo. Não tinha vergonha de nada.

1 comentário:

  1. Um dia todos nós fomos assim... inocentes no corpo e na alma!

    Mas a vida é um rio que corre directo para a foz sem nunca parar... saudade de algumas coisas de criança (suspiros!)


    Beijos

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