Vejo-te a chorar.

Vejo-te a chorar, debaixo da chuva. Deixas-te ficar diante de mim, enquanto vou descendo as escadas devagar. Estás a chorar porque algo te fez mal. Não limpas qualquer lágrima e nem debaixo da chuva sais. Vejo nos teus olhos que não querias nada disto, que pensaste muito antes de vir ter comigo. Eu não te queria assim, a chorar à porta de casa, e para mais de baixo da chuva. O sol está a dormir e o candeeiro é a única coisa que te ilumina no meio da escuridão da rua. A inocência que trazes no coração, as lágrimas doces que se ficaram pelos lábios, provo-as agora, assim que chego perto de ti. Tens saudades. E revives com intensidade o que aconteceu no passado. Se soubesses como me sinto, cada vez que olho para uma fotografia tua. Para um sorriso teu. Eram tão genuínos, tão sinceros e exagerados.

Não são os teus risos, os teus abraços no meio do passeio, não são os beijos, nem nada disso que me causam mau estar. É o ter saudades tuas. E o mau estar, é um mau estar do querer de novo tudo o que aconteceu, mesmo sabendo que tudo poderá voltar ao mesmo. Porque somos os dois demasiado orgulhosos e muito senhores do que é seu. E temos um à vontade demasiado grande que nos faz afastar por sentirmos que não precisamos de ninguém para nos proteger, porque o coração já se sabe proteger.

Evito ver uma fotografia tua. Porque sempre que o faço, recordo-me de tudo, e vem a culpa, a tristeza e tudo o resto bater às portas do coração, causando-me saudades que não quero viver nem sentir.