quinta-feira, julho 31

A vergonha publica

Segunda-feira de manha. Um dia calmo e de ambiente ameno para ir passear.

A Inês queria ir ao corte inglês a Lisboa.
Como somos de Aveiro, seria algumas horas de viagem até lá.
Peguei na Rita e metia no banco de traz do carro.

- Inês despacha-te.
- Já vou, só me estou a pentear.
- Está bem!

Lá veio ela a correr toda bem vestida para ir ao shopping.
- Fogo vens toda bonita.
- Temos de ter alguma vaidade. Vamos?
- Espera, mas e onde é que comemos?
- No McDonald, no McDonald! Diz a Rita a gritar cheia de emoção e felicidade.
- Pode ser Inês?
- Sim pode, porque não?

Fizemos duas horas de viagem.
Chegámos ao shopping e fomos comer ao McDonald.
A Rita só saltava de alegria e estava sempre a pular e a dizer-me o que é que queria comer.
A Inês foi-se sentar com a Rita numa daquelas mesas encostadas à parede.
Pedi, e levei os tabuleiros recheados de comida plastificada e estupidamente saborosa.
A Rita de tanta emoção que tinha, a primeira coisa que fez, foi mergulhar os dedos no molho das batatas fritas.

- Ó Rita, não faças isso. Come as batatas devagar. Não te sujes.
- Come em condições filha. Tens de ter calma, o comer não te foge do prato.
- Tá bem! =)

Acabámos de comer e fomos até ao Elcorte Inglês.
À ida para lá vimos que havia uma manifestação por causa dos aumentos dos combustíveis.
Estacionei o carro um pouco longe do Elcorte Inglês, mas dava para se fazer num quarto de hora a pé, na boa.

Eu coloquei a Rita aos meus ombros.
Andámos em direcção a uma passadeira para atravessar a rua.
Subitamente antes de atravessar houve um policia que começou a bater nas pessoas que se manifestavam. Sem razão aparente. Começa tudo a gritar e a maior parte das pessoas começa a ir em direcção a um grupo de policias que estava a usar a força bruta com um civil deitado no chão.
Tinha a cara em sangue de tanto ser pressionada contra o chão pelo joelho do policia.
Os manifestantes começaram a bater nos 5 policias que estava a bater de forma bruta e sem controlo nenhum.

Pouco depois chega uma carrinha com policias lá dentro.
Assim que chegaram foi a confusão total.
Foi tudo virado a carrinha da policia. Os outros já quase que estava estendidos no chão com os pontapés e porrada que levavam das pessoas com as bandeiras.

Um policia de mota desce da mesma e vem ter comigo e com a Inês.
Eu ainda tinha a Rita no pescoço. Um senhor atira uma coisa para mim mas foi sem querer.
Eu agarro naquilo e fico a apreciar aquilo.

- Dê-me cá isso. Diz o policia agarrando no objecto.
- Uoi?!

O Policia vê que não lhe dou aquilo, assim só porque "sim".
E agarra-me no braço e começa a puxar-me para o chão.

- A Rita Pedro. Cuidado olha a Rita.
Subitamente, houvesse mulheres a gritar por causa do filho que eu levava ao pescoço que quase caia com o filho da puta do policia a puxar-me pelos braços.
- Largue-me pá.
- Dê cá isso.

Vem mais um policia agarrar na Rita.
- A minha filha, mas o que é que estás a fazer?
Dê-me a minha filha.

Eu largo o objecto e atiro-me ao policia com unhas e dentes.
Dou-lhe tanta porrada que fica estendido no chão.
Vou-me a virar ao outro policia que tinha a Rita. E a Inês já lá está a pedir a filha ao policia, mas ele diz que não. Eu dou ter com o policia e digo-lhe para me dar a minha filha. Ele diz que não.

Eu puxa por um braço e ele segura no outro.
A Inês vendo esta estúpida acção policial vira-se ao policia a bater-lhe em tudo e com tudo o que pode. Eu largo o braço da Rita e viro-me ao policia. Ele assim que me vê a ir direito a ele, ele larga-a, mas com a raiva todo com que estava não paro e vou-me a ele.

Ele cai ao chão com o pontapé que lhe dou. A Inês aproveita-se do momento e atira-se para cima dele e começa a bater-lhe descontroladamente e a chorar e a gritar, sempre a dizer, "Eu quero a minha filha".

Há dois policias que veêm o outro a apanhar e vão socorre-lo.
Batem-me com o bastam e apontam a arma á cabeça da Inês, que pára assim que a vê.
- Pare! Deite-se no chão.
- Vai pó caralho!
- Deite-se no chão.
- O caralho.

Bate-me com o bastão nas costelas.
A Rita a chorar grita: PAIiiiiiiiiiiiiiiiii!
Vem a correr em direcção ao policia e este dá-lhe um empurrão, que bate com a cabeça no chão. A Inês vai a correr socorrer a filha. - Mas o que é qe se passa com vocês caralho?
- Uma criança? Numa Criança?

Eles começam a por-me os braços atrás das costas. Reparo que a Inês diz que a Rita não está a respirar e eu aí como qualquer pai luto com a adrenalina a ser puxada do fundo da consciência e a vir-me a memoria todos os bons momentos que passei com ela nos seus últimos 10 anos de vida.
- Nãoooooooo! Ritaaaaaa!
Só me lembro do sorrido dela quando nasceu. Estavam-me quase a partir o braço quando fiz força e soltei-me. Agarrei na perna de um policia com tanta força que o homem chorou de agonia. Fez sangue mas eu queria lá saber.

Consegui-me levantar. Eles continuavam-me a bater violentamente. Resisti aos bastões.
Peguei na mão de um policia e partilhe o pulso. Ao outro dei-lhe um pontapé no peito e este levantasse com rapides e vêm-me para bater com o bastão de borracha. Consegue atingir-me no ombro, mas pego no braço dele e parto-o. Ele agonia-se todo.

Vou a correr para ir ter com a Inês e ver como está a Rita.
- Rita? Filha acorda. Dou-lhe chapadas na cara, mas sem reacção aparente.
A Inês começa a fazer reanimação e parece que ela não tinha sobrevivido ao impacto.
Ela desistiu. Chorava. Eu continuei a reanimação. Dava-lhe fortes pancadas no toraxe para a reanimar. Ela tossiu e acordou cheia de dores.

Peguei nela e fomos embora para o carro e depois seguimos para casa.
Foi um dia cheio de emoção. Os policias estavam com outros policias a serem tratados por paramédicos. Eles queriam-me prender, mas no estado em que eu estava só iam piorar a situação deles. Eles mandara-me parar mas eu não liguei.

Puseram-se a perseguir-me na auto-estrada com duas motas da policia.
Eu encostei porque já estava farto daquela merda toda. Saí do carro e os policias saíram das motas.
- O que é que se passa caralho?
- O Senhor tem de nos acompanhar há esquadra.
- Vou o caralho. Já viram o que fizeram há minha filha? Já viram caralho?
- Não temos nada haver com isso. O senhor e a sua esposa têm de nos acompanhar a uma esquadra por causa do sucedido.
- Vai o caralho. Vão-se foder. Quem precisa de policias como vocês?
- Tenha cuidado com o que diz, porque se não pode ser preso já aqui.
- Preso? Porquê caralho? Só porque digo o que eu quero?

A Inês sai do carro a chorar e a compor-se.
- O que é que se passa a final? Que mal vos fizemos?
- A senhor e o seu marido têm de nos acompanhar há esquadra.
- Porquê?
- Por causa da violência que usaram com agentes da autoridade.
- Deves estar a gozar não? Violência contra autoridade? E aquilo que nos fizeram a nós e há nossa filha isso já não conta não é?
- Não temos nada haver com isso.
- Não têns nada haver com isso? Ela vira-se a ele com uma cara de... Imaginem uma mãe com o ódio todo de perder o filho.
- A senhor faça o favor de se afastar. Afaste-se.
- Ó Inês tem calma não matas o homem.

Tráááááááááázz! Um estaladão na cara do policia que até lá fica a marca da mão.
- A senhora está presa por agressão a um agente da autoridade.

Eles agarram no braço da Inês e põem nas costas.
- Aiiiiii estão-me a aleijar. Ó Pedrooooo ajuda-me. Começa a chorar.
- O Senhor não vai fazer nada está a ouvir?
- Vai-te fuder caralho. E pára de me chamar senhor que eu não sou católico caralho.

Viro-me a ele e puxu-lhe por um braço e ele cai ao chão.
O outro não larga a Inês e esta continua a gritar de dores.
Dou um murro na cara do policia que este fica estendido no chão.
- Vá vamos embora.
- Será que não vêem que somos uma família unida e apenas queríamos passar o dia em família como todas as outras?
- Os senhores vão ser presos.
- Tá bem, olha a minha cara de preocupado com as vossas regras de puta de sociedade.

Lá fomos embora para casa.
Fomos tratar dos ferimentos da Rita.
Como a Inês era médica ela sabia o que é que ela tinha.
Tinha um braço partido e um pequeno golpe na cabeça devido á queda.
Tivemos de ir ao hospital. Trataram dela e a Inês foi uma das pessoas a fazê-lo.

No dia seguinte, o nosso caso aparecia na televisão, como um caso de violência policial contra civis e manifestantes.

Agora imaginem as televisões e rádios e jornais a irem lá a casa para saber sobre a história.
Imaginem agora o resto da história. Que também faz bem imaginar coisas, por muito estúpidas que sejam.

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