segunda-feira, julho 18

Escrever é...


Escrever é a melhor ferramenta que o corpo tem para comunicação a seguir à fala ou ao gesto. Somos atacados e atacamos nós as palavras sempre as lê-mos. Julgamos com elas, choramos por elas e com elas. Magoamos, ofendemos, defendemos, reprimimos.  Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para as usar de todas as formas e feitios. Dar-lhes o poder que na realidade não teriam se não a tivéssemos inventado. No meio de tudo isto, ainda nos preocupamos com a maneira de como as usamos. Da forma como as proferimos, para não magoar ninguém, ou enganar, ou sair-mos nos enganados. É a nossa melhor maneira de partilhar as ideias mais escondidas dentro de nós. Talvez porque as cordas vocais não têm a coragem que os dedos têm. Mas os dedos usam a caneta que é desprovida de qualquer tipo de partido. É indiferente ao uso das palavras, pois ela não sabe qual vamos usar. Ou como a vamos usar. o que vamos escrever nós com ela. Se ela soubesse, deixaria de ser caneta, para passar a ser pedra. E até a pedra não chega sequer a saber que letras vamos nós escrever com ela. Só se sabe que temos um limite. Quando a tinta se gastar ou quando a pedra nas nossas mãos desaparecer, sabemos que atingimos o limite das palavras com tal objecto. 

Escrevemos porque nos sabe bem. Liberta a imaginação, liberta-nos o ser que vive preso dentro do nosso corpo. Como se colocássemos a nossa pequenina alma nas folhas, através da tinta que usamos para nos fazer aparecer no papel em branco. Porque é com isso que o humano vive. Senti-mos um prazer qualquer, para nos fazer escrever. Seja feito depressa ou bem devagar, chegamos muitas vezes a transmitir ideias que de outra forma não o conseguiríamos fazer. Porque a escrever temos uma calma que a voz não nos dá. Escrevemos porque nos faz apagar o que já vivemos.

Lê-mos para nos maravilharmos com outras ideias, outros gostos, outros sofrimentos. Imaginar-mos outros seres, outras vidas de alguém que não somos nós. Porque não o conseguimos ser de outra maneira se não na nossa simples imaginação.

Escrever é como salvar uma parte de nós fora do nosso corpo. Porque sentimos que já não precisamos disso dentro de nós a atormentar-nos ou que nos faça lembrar de tudo isso num constante dia-a-dia.

2 comentários:

  1. «Talvez porque as cordas vocais não têm a coragem que os dedos têm.», tão verdade e tão bonito, Pedro.

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  2. Um texto cheio de verdades... sobre o que é escrever. Também sinto assim...

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