sábado, abril 23

Um dia hei-de sofrer o que sofreste. Iremos estar quites.


Queria-te pedir desculpa. Mas como toda agente, também tenho vergonha na cara. Por todas as palavras que te disse. Por todas as feridas que abri no teu coração. Por todas as más atitudes. Coloquei tantas máscaras em ti, e outras tantas em mim. Escondi-me de ti com o medo. Escrevi o que nunca deveria ter escrito a ninguém. Estava magoado e ferido pelo que aconteceu. Sentia-me traído, sentia-me mal por nunca ter percebido o que correu assim de tão mal entre nós. E guardei as boas e más memórias e só queria ter esquecido as más memórias. Foram elas que me fizeram chamar-te todos os nomes. Nunca tos disse na cara, mas dizia-te em sonhos, em pensamentos. E, quando passas-te hoje por mim, apercebi-me de tudo o que te tinha feito. Queria dar-te um abraço e pedir-te desculpa, mas sei que isso já não resulta. Estás uma mulher e eu já deveria ser um homem à muito tempo. Olhei para ti, e senti como se me tivesses dado um murro no coração depois de tentares esconder esse teu olhar. O teu olhar que sempre foi tão estranho. Porque não te conseguia ler, nunca. Não sabia como estavas, porque sempre foste orgulhosa do que eras, sempre confiante e decidida e eu não tinha nada disso e perdi-te. A ti e a tantas outras raparigas que me faziam a volta à cabeça, tudo porque não as conseguia ler. Não lhes conseguia ler nos olhos o que o coração sentia. E se eu tivesse asas, acredita que as partia, só para tas dar. Porque mereces mais do que eu, porque passaste por mais coisas bem piores que eu na vida. Tenho pena de tudo o que fiz no passado e prometo que serei melhor no presente e futuro. Era egoísta, talvez a melhor palavra seja inveja. Inveja do que eras, do que eram. Do que são hoje e eu que nada tenho. Vou ter de perder a inveja. E vai ser hoje. Não ganho nada com isso. Porque, tu tens qualidades, muito superiores às minhas e, por muito que na minha cabeça até hoje te tenha tratado como lixo. És humana, mulher e menina. Não o devia ter feito, mas fiz e tenho vergonha por isso.


Fiz-te sofrer e quem deveria ter sofrido era eu. E, como qualquer mau rapaz, um dia irei morrer, cedo.

3 comentários:

  1. mais uma vez, obrigada!
    não sabias? claro que sabias, sempre te disse.

    ResponderEliminar
  2. obrigada :) este também está excelente, sabes tão bem transpor os teus sentimentos para os textos, sejam eles quais forem, parabéns! adoro le-los :)

    ResponderEliminar
  3. também faço isso, acho que a escrita, pelo menos para mim, funciona muito como um escape e também para sentir o que queria sentir nos momentos mais difíceis. Acho que quando escrevemos saímos de nós próprios e podemos ser quem somos bem lá no fundo (acontece comigo) ..

    ResponderEliminar