Tens cara de anjinha.

Tens cara de anjinha. Mas o teu corpo mostra o contrário. Os teus olhos são da cor do mar, mas falam o que não queres que os teus pais saibam. Principalmente a tua mãe. As tuas ancas registam a presença de mãos masculinas. Há noites em que não dormes em casa. Outras, bates os pés no chão, quase que implorando de joelhos  com ranho pelo queixo, pelo menos 5€ aos teus pais para sair com as tuas amigas, para ir ao cinema. Mas ao cinema é que tu não vais. Escapaste das saias da tua mãe, e largas a mão ao teu pai muito nova, pensando que a vida que os outros estão a criar, pode também ser tua. Até tens uma certa inteligência. E sim, sem dúvida que és bonita, e é por isso que te safas sempre quando o desafio é engatar rapazes nos intervalos das aulas. Sofreste de amores, e por isso vais aproveitando agora a vida que tens pela frente. De cara bonita e de inteligência embrulhada num dos bolsos das calças, sais à aventura, com a ideia de querer experimentar as coisas que os outros provam e dizem ser do melhor. As escolhas tornam-se rotina. Passarás a tua vida, num mar de mentiras. Até que um dia deixas uma ponta solta, ou essa ponta que tanto tentas esconder de quem te quer bem, se destapa e lá vai a tua simpatia. A tua frescura. A tua virgindade.

Cais nas teias de uma aranha que não consegues matar. Abres portas que nunca mais vais poder fechar.