quarta-feira, janeiro 5

Assim te escondes...


Eu corria o mais que podia. Fugia de ti. Daquele amor deformado, capaz de fazer badalar os sinos nos topos das catedrais. Gritas, de formas loucas e descontroladas o meu nome. Puxas o cabelo como se te quisesses transformar em mim, rasgando as peles que cobrem o teu corpo, aproveitando o processo de mudança de corpo. Corres para apanhar os meus sonhos, os meus encantos, todos os meus amores. Sabes como sou, como choro, como grito, como estrebucho, como me masturbo, como me vejo. Sabes o que vejo, o ouço, com quem me dou. Sou tudo para ti, e mesmo assim, nunca me tiveste, se não em sonhos. Sonhas, sonhas comigo, quase todos os dias. Conheceste-me ao acaso, ficando imediatamente encantada por mim. Fazes comentários invisíveis, com o medo que descubra quem és, e assim, todo esse teu gosto que trazes agarrado no peito, nunca chegue a desmoronar, evitando que se torne num manto cinzento. Ficando tu assim sem qualquer sentimento sobre mim. Tens medo de perder o gosto que dá correr atrás de mim. É por isso que continuas a vigiar-me de longe, sem nunca me tocar, ou dirigir uma palavra. Mas passas ao meu lado, olhas-me nos olhos, mas nada dizes. Não sei que és tu, por isso só te acho só mais uma pessoa.

Lês tudo o que escrevo, tudo o que faço. Admiras-me, e não és capaz de me dizer um olá. Um utilizador anónimo que se tornou perseguidor de requintes. De requintes, onde as palavras te enchem de emoção, enquanto a cada dia, vês-te crescer. Partilhas o meu mundo, como se fosse parte de ti. E dizes, que sou aquele que, diz o que pensas sem medos. Amas-me, pensas tu, mas não me amas realmente a mim. Dizes que sou mágico e inteligente, mas era isso que tu gostavas de ter em ti. Eu sei, desesperas quando eu não escrevo nada durante dias. Choras e os dias correm-te mal, por saberes que eu não escrevi nada, porque de alguma maneira, achas que escrevo para ti. Só e exclusivamente para ti. Esgravatas as paredes só porque a ansiedade teima em ficar e é então que sais de casa, arranjada, para o caso de me vires na rua, eu chegue a prestar atenção a ti. Persegues os jardins com os teus olhares. Consomes as suas cores, os seus cheiros, só para me encontrar nas suas entranhas. E então, à noite, é quando te deitas, vestida de princesa, de coroa na cabeça, imaginando-me ao teu lado, a suspirar ao teu ouvido, com a minha voz de rapaz, as palavras que fazem o teu coração parar. Assim te escondes...

És aquela pessoa, que no fim de tudo, não passam de todos os leitores que me seguem, anonimamente, sem se chegarem à frente, deixando que a luz lhes ilumine a face, identificando-se individualmente. E assim ficam, desconhecidos, sendo só mais um numero.

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