quinta-feira, junho 4

Não sou mais do que um cabelo meu!

Não sou mais do que um cabelo meu!

A minha presença, é como um cabelo na cabeça de alguém. Sou apenas mais um que faz número num sitio qualquer. Sou só mais um cabelo meu. Acordo com dores, dores de cabeça. Todos os dias tenho ataques de pânico. Todos os dias tenho ataques de coração. Todos os dias morro sem razão aparente. Nada me faz tentar perceber como raio é que consigo viver assim tão violentamente. Levo o meu peito àquele local onde o fogo gela corações quentes.

O meu amor, é dor. Não suporto tal amor. Não consigo acreditar que estou a pedir desculpa a alguém de quem tanto mal disse. devia começar a medir as palavras e seleccionar com cuidado aquilo que digo a quem sobre quem. As pedras forma nuvens no céu. Não me deixam esquecer o que sou, muito menos o que fui.

Consigo-me sentir bem apertadinho dentro daquela típica caixinha de madeira que contém recordações inacabadas. Todas aquelas mentiras guardadas no tempo, escondidas no meu maior inconsciente, naquele pequeno lugar mais pequeno que um átomo que contém a capacidade de guardar milhares de mentiras e arrepios e momentos de fazer chorar até a alma da pobre criança.

Choro. Faço-me chorar para ver se ainda sinto. Se ainda respiro como uma pessoa normal. Vejo-me a cair em tudo o que é luz e a erguer-me em tudo o que é escuro. Levanto-me e olho para o céu. Forço as lágrimas a saírem. Já não consigo chorar. Já tudo secou. Ficou em gelado. Estou completamente gelado. Cada neurónio meu está gelado. E não me vou mexer para não me partir. Se este mundo me tira todas as forças de que me orgulho ter. Se me tira todo este poder invisível que me mantém em pé a cada novo nascer do sol, então que me arranque o coração e todo o sangue que me resta para me parar de vez. Porque até morrer, vou dar muita luta a esta indignidade que oculto de todos. Esta indignidade que me tira tudo o que crio.

Não percas estas verdades que me saem da boca. Escrevas bem escritas, e preta bem atenção lendo-as com olhos de observador. Não percas todas as mentiras, fazendo o mesmo processo. Digo-te agora, que são todas iguais, não há verdades nem mentiras. Escolhe apenas as que achas correctas para ti. Espero pode-las ver noutro dia.

Diz-me em que dia queres que toque na tua pele. Cravar-te todas as inocências que não sentistes. Todas as grandes mentiras que te contaram como certas. Cravar-te na pele, uma vida de mil gerações. Cravar-te na pele o mundo que está por baixo de ti. Um mundo que não és.

O cabelo que guardo na gaveta, é meu. Arrancado num dia de dor. Arrancado no dia em que tive a maior felicidade. O cabelo de um sentimento. Um cabelo que permanece em ficar preso a mim. E guardo aquele cabelo, para não me esquecer do calor feito pelos braços de quem um dia me fez chorar de tristeza e gritar de alegria. Eu sinto que tenho algo dentro de mim. Algo que me faz tirar o ar que acabei de respirar. Parece um jogo. Faz-me lembrar o amor que tive um dia. O amor que fica agora guardado nas memórias de um cabelo. E tudo começou ali. Naquele exacto momento. Naquele cabelo que esteve comigo desde que vim ao mundo.

Caio em mim. Corto o cabelo em mil pedaços. Só me resta as pontas do cabelo. As pontas onde tudo começou e acabou. Estou neste impasse. Jogo o cabelo fora. Ou guardo-o na gaveta? Não quero continuar nesta ilusão. O cabelo é a chave. A chave para me libertar destas amarras que me prendem a mente e o corpo de fazer qualquer movimento. É sair e viver. Ou ficar e morrer por doença.

Não há segundas oportunidades. A segunda oportunidade está nas "antes escolhas" que fazemos. Na noite anterior a esta, as saudades deste dia tinha-me aparecido em sonhos. Em sonhos escuros e perturbantes. Como pesadelos onde os anjos ficam brilhantes e os olhos viram vidro espelhado pedra.

O Céu parece-me ser demasiado bonito para uma pessoa como eu viver durante muito tempo.
Este mundo encontra-se demasiado atarefado para prestar atenção ao som que me incomoda.

Não sou mais do que um cabelo meu!

1 comentário:

  1. "Acordo com dores, dores de cabeça. Todos os dias tenho ataques de pânico. Todos os dias tenho ataques de coração. Todos os dias morro sem razão aparente. Nada me faz tentar perceber como raio é que consigo viver assim tão violentamente. Levo o meu peito àquele local onde o fogo gela corações quentes."

    :x adorei.

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