segunda-feira, abril 27

Recorda-te!

O ser humano faz-me chorar. Atenuam a dor do fim de uma vida. Agarram-se aos outros, na tentativa de esquecer o fim. Choram, deprimem-se, gritam, abraçam, amam, como se lhes das alma fosse salva a esperança de continuar a viver num ciclo infinito.

Contam os segundos de cada minuto, os minutos de cada hora, as horas de cada dia, os dias de cada semana, as semanas de cada mês, os meses de cada ano, acrescentando mais um ao anterior, na tentativa de que a contagem seja mais lenta e os dias passem mais devagar. Que o tempo seja cada vez maior e que a dor com que acordam todos os dias seja esquecida até chegar ao fim.

Fazem compras, vendem-se, matam-se a trabalhar, vão para psicólogos, matam-se à porrada, criam laços amigáveis, fazem de tudo, para ver se enganam a morte, só para conseguir mais um milésimo de segundo de vida.

É preciso saber que vais morrer, para começares realmente a viver,? Mesmo assim, mesmo que saibas que tens muito tempo, por muito que penses que vais morrer e comesses a viver as coisas de outra forma, vais voltar à origem do teu modo de vida sem te aperceberes de que tudo irá cá ficar e tu não. De que tudo o que és agora, já mais serás depois. Sais à noite com os amigos, como se fosse uma droga para deixares de pensar, deixares de controlar o que tens, não dares uso, apenas fugir da realidade. Da realidade individual que se espalha por todos e tu nem te apercebes. Quando vais sair para beber café ou fumar, esperas sempre que aquele seja sempre só mais um cigarro no meio de muitos, um café no meio de muitos. Nunca pensas que será o fim, o ultimo. Deixas a vida andar, e mesmo assim choras por pensar e imaginares que és tu quem está a fazer tudo aquilo acontecer. E é verdade, mas nem te apercebes da razão, do motivo, das acções. Apenas te deixas ir, ignorando tudo o que te provoca medo e tristeza, apenas tentas viver insulada de tudo o que te faça sofrer, e no entanto aguardas com ansiedade pelo próximo dia, esperando sempre cada vez mais dele, para que seja mais feliz que o outro, seja melhor e mais preenchido que o outro. As coisas são feitas para nos entreter a mente. É um buraco que ainda é impossível ser enchido.

A minha alegria resume-se a estar vivo e a viver o que tenho e encarar as coisas da melhor maneira possível, melhorando o que sou, recordando o que fui.
A minha tristeza resume-se a poder viver como todos e ao mesmo tempo aperceber-me de que não sou como eles, pensando assim causa-me fobias controláveis e saudáveis.

Se é bom ou não pensar assim, é assim que vejo o que tenho agora.
Aproveita o que tens, sem pensar no próximo dia, o dia é único e não vais presenciar dois iguais. Preenche-te da melhor maneira.

O que fui eu, se tudo isto acabar agora?

5 comentários:

  1. Vou ser sincera, vou ser MUITO sincera! Às vezes leio os teus textos, aqueles graaaaaaaaaandes que tu costumas escrever e na maioria gosto mas há partes que leio na dita diagonal.
    Li e reli este na integra umas quantas vezes. Adorei. pensei escrever aqui uma frase que gostásse para ilustrar a qualidade do texto mas já era um parágrafo e mais algumas. x) e que hei-de dizer? ilustras-te muito bem a opinião que também eu partilho.
    Muito bom. MESMO muito bom. (:

    adorei. adorei.

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  2. somos seres evolutivos qeq queres? (: podemos sempre melhorar (a)

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  3. "É preciso saber que vais morrer, para começares realmente a viver?"
    Claro que é! É preciso sentir a adrenalina daquele 'final' para saberes que há alguma coisa que te acelerar o coração e que te faz pedir por mais um dia. Tornasse uma droga, acredita. A vida é uma droga, e quando pensas em puxa-la ou mudar qualquer coisinha vem outra onda e lá vai tudo. Mas no final/ princípio (de uma nova fase) tu não vês que droga é a nova que surgiu na mudança mas continuas a senti-la no ar. Ó pah e eu já me perdi aqui no meio --'

    Anyway, tu expressas-te bem. Mas digo já que tabaquinho não faz mal a ninguém -.-' e o café também não! Senti-me ofendida por toda a gente que toma café e que fuma --'
    Tu julgas tudo inconscientemente e ainda tens a lata para dizer que não. As tuas 'ideias' são tão firmes mas só vês as coisas para o lado que te convêm.. (triste mundo o nosso também ó Pedro)
    E as pessoas preenchem-se da melhor maneira possível, e esta será sempre errada aos teus olhos.
    Há milhares de opiniões..

    Quanto a isto..
    "O que fui eu, se tudo isto acabar agora?"
    Pergunto-me todos os dias o mesmo.
    Se eu acabar o que vou ser para o que me rodeia. (irá tudo continuar e eu não fui nada, pronto é a verdade)..

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  4. Pensar menos, agir mais.
    Concordo com tudo o que me disseste :p

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  5. Acho que não reflecte o facto de mereceres ou não a tua vida. Começo a ver isto - este estranhoa gir de palpites constantes- através de uma outra perspectiva. As pessoas têm sede de viver. querem tanto viver que tentam desmesuradamente agarrar a sua vida e a dos outros. Comandar, Sentir duplamente. Por eles, por mim, por ti. Querem roubar aquilo que é teu porque o ambicionam para elas.

    Quanto a falar... somos seres sociais. se inicias uma conversa é porque terás gosto em tê-la. Por isso a fazes com o sujeito x e não o y.

    é como quando fazemos aquele dialogo tão comum:
    - o que tens?
    - nada?
    - tens a certeza?
    - claro que tenho. (passa-se sempre qualquer coisa que teimosamente designamos por nada).

    e quando esse nada mexe contigo tu vais tentar falar com alguém que te saiba ler nas entrelinhas. O pior é quando se contentam com um nada. quando não te estimulam quando o que mais precisas que a tua mente se exercite e ocupe. Escreves por escrever. Falas por falar. E sai sempre algoq ue te diz que nada foi em vão. apesar de tudo o que nos rodeia ser vão. ironia.

    beijinho*

    pS: e não sejas tonto. eu gosto de dissertar contigo (:

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