quarta-feira, abril 15

Acesso Negado

O vazio dentro de mim começa cada vez a ser maior. A imaginação apodera-se da realidade em que tento viver e perceber. Tudo se ofusca, tudo fica misturada, como se fosse um baralho de cartas. Tudo é jogado, tudo se perde. Por mais que tente perceber, existe um pedaço de nevoeiro branco que não me deixa perceber, não me deixa ter uma ideia clara do que se passa dentro de mim. Tudo está confuso sem me dar por isso. Não me apercebi no que estava a meter, no enorme buraco em que caio sem um fim à vista. Tudo se parte, tudo cai comigo, sem me aperceber do que causou tudo aquilo em que estou metido. Sonho, sem sonhar. Sonho no que me mais atormenta e entretém a mente durante dias seguidos. As recordações dos amores, dos beijos, das mãos, do cheiro do suor de quem já foi muito. O relembrar da pessoa que mais gostei, de tudo e no entanto quando acordo, apercebo-me de que não tenho nada. Tudo o que tive, tive e não poderei ter novamente. Mudei tanto e mesmo assim penso que estou na mesma. Sem, sem saber...

Olho para a televisão, assisto a um documentário de uma menina possuída pelo demónio - dizem - não pisco os olhos, não lhe toco com os dedos, não desvio o olhar durante toda aquela transmissão da pequena garota que tem alguma coisa dentro dela que toda agente diz que é o demónio. Faz coisas impensáveis, não sente dor nem medo. Espeta as mãos em picos de metal, risse quando o faz. Espuma sangue, sangue das mãos que lambeu. Risse e olha directamente com um olhar de uma criança com problemas mentais, com um olhar cativante nos meus olhos. Fito aquele olhar e sinto-me a ser preenchido por algo que me põem medo, que me atormenta a respiração, que me põem a sentir calafrios, e ao mesmo tempo uma paz com um terror do qual tinha medo. Ela ficou dentro de mim, controla os meus sentimentos, controla tudo o que faço e penso. Está em tudo. Pára-me a respiração. Faz-me dores insuportáveis nas pernas. Pôs me fraco sem que eu pudesse fazer nada. E aqui estou eu. E quando me apercebi de tudo, encarei sem medos ou remorsos. Começo a chorar, a sofrer de tudo o que fiz. Ela mostrou-me o que não conseguia ver. Mostrou-me o melhor do pior, e o pior do melhor. Vi tudo e agora virei-me a ela pensando que tudo ia acabar, que ia parar de sofrer, de ter dores, de tudo o que pensava que era mau e que me mostrou que era bom ou melhor do que eu pensava. Mostrou-me o mundo que via. E nem falou para mim. Percebo agora o outro lado, o meu outro lado. Aqui estou eu, freneticamente a escrever sem pensar, sem me impedir de pensar novamente naquilo que vou escrever. Fechou-se em mim, conte-me, tirou-me o ar, impediu-me de sentir, de ver, de falar, de fazer fosse o que fosse. Sonhava dentro de sonhos irreais, admirava cada bocado de cada sonho, cada parte de cada paisagem que imaginava, aceitava-os como reais, como se pertencessem ao mundo onde vivo. Sentia-me criança outra vez sem me aperceber.

Olho para lá da janela, ouvindo a melodia de fundo que cai lá fora. Rastejo até ao parapeito da mesma, na esperança de me conseguir erguer no dia em que acordo. Vejo reflectido no espelho duplo a minha imagem, assustado e com sono. Sono, por dormir com a insegurança e o tormento que me faz acordar de minuto a minuto a pensar que nada irá resultar, nem que seja só mais uma vez.

Sonhos dentro de sonhos... Sonhos impensáveis de acontecer, sonhos irreais e ao mesmo tempo tão bons de acontecer. Sonhos, sonhos que não deveriam ser sonhos e outros que não deviam ser pensados. Vivo com sonhos, pensado que um dia se irão tornar reais, e vivendo ao mesmo tempo numa realidade criativa de uma evolução mágica com a imaginação em volto com a vida que me envolve, assim ... Perco-me nestas histórias de fadas de encantar, esperando que um dia, tudo o que agora nada é, um dia mais tarde se torne em tudo. Deixe de ser confuso e passe a ser vivido com naturalidade e aceitação. Preso? Sinto-me em parte. Não sei como libertar essa parte. Para dar atenção a alguma coisa, tenho de deixar de dar atenção a outra. Para ganhar uma coisa, um outra coisa boa terei de largar. E um dia breve, irei jogar o jogo do copo e iremos ver quem é a mente fraca. Já nada me conseguirá parar nesta luta de querer evoluir o meu raciocínio ilógico de que todos gostam ou desgostam. Ninguém me poderá impedir de pensar. Eu vou jogar ao jogo do copo e a única coisa que vai acontecer é o "vulto" enfrentar uma alma que não tem medo de arriscar tudo para ganhar o que mais quer na vida. Eu vou jogar.

5 comentários:

  1. sonhar é ter um doce refúgio a envolver-nos.

    Adorei este texto... muito sentimento ^^

    ResponderEliminar
  2. WEEEE! Eu estou rodeada de coisas sensuais! :O

    Jogo do copo? 0.o
    Se jogares, manda cumprimentos ao meu patinho amarelo :')
    Nunca teve nome fixo mas ele deve-se lembrar de mim (a)
    Aquele gostoso e sensual, tenho saudades dele, por acaso :/


    Anyway, Sabes do que me lembrei ao ler este texto? Daquilo que me tinhas dito: Não vale a pena chorar por aquilo que podes mudar.
    Salta, pula, muda. (a)

    Ya, e agora apeteceu-me escrever um cometário bués de longo só para fazer ginástica aos dedos. Estou chocada comigo mesma, a sério. Estou com sono e isso faz um efeito em mim estranho, como já podes estar a imaginar (a)
    Amanhã já não me irei lembrar de nada, mas caga. Aproveita o dia de hoje.

    Bem, vou dormir. Tenho os olhos quase a fechar e feita parva apetece-me escrever para ti :/

    Beijo na testa*

    ResponderEliminar