terça-feira, setembro 20

Se tu sentisses o mundo


Por vezes, chego a viver dias que me deixam num estando de saudado do passado exageradamente estranho. É tão completamente fora do normal, tão fora da realidade, ou talvez seja a própria realidade a vir ao de cima, a tocar-me no coração, com bastante força, para que sinta e me ponha a imaginar como será a vida no futuro, com base de tanta coisa que já vi. Olho tantas vezes para o céu, tantas vezes para estas quatro paredes pintadas de um azul bebé já gasto. Sinto o conforto da almofada por baixo da cabeça. Lembro-me de tantas memórias que vivi, que tive diante de mim. De tantas situações que me fizeram sorrir, outras tantas que me fizeram chorar. Como poderei eu, alguma vez, fugir do que me fez chorar, ou perseguir tudo aquilo que me fez rir até não poder mais? Quando é que vou poder sentir a água de baixo dos meus pés, ou a banhar-me o corpo, sem que sinta que ela é apenas mais um bocado de algo que faz parte de tanto? Senti-la como a água que é.

Talvez irei sentir as coisas tal como elas são, quando a idade me passar pelo corpo, a doença me calhar a mim, e a alma for maior que esta que tenho agora. Que o Diabo exista dentro de mim, porque o meu ego se encheu de coragem para viver sem ter medo da morte que Deus criou para me ceifar a mim a alma do corpo. É quando olho para a água que me apercebo que os filmes de hoje amanha deixarão de ser vistos, as modas do amanha serão tão diferentes, os carros, também irão ser tão diferentes. Então, chego a pensar na morte. Não tenho medo de morrer, tenho medo e esse sim é um medo de ódio, um medo que me faz alterar o gosto pela vida, de elevar o amor a outro patamar, porque tenho medo que não chegue a viver tudo.

Se tu sentisses o mundo, como eu o chego a sentir tantas vezes...

1 comentário:

  1. Cada um tem a sua percepção do mundo, mas li este teu texto e disse-me tanto de mim, então pequeno pedaço:

    "tenho medo que não chegue a viver tudo."

    Às vezes parece que quero abarcar o mundo duma vez só, e que não tenho capacidade de tanto, sinto uma urgência de viver, e tal como tu, não tenho medo da morte, nenhum mesmo.

    Beijo

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