A cara muda e a juventude vai ficando pelos anos...

E por fim lá vem a idade lembrando-nos dos anos que já cá passamos, mostrando-nos aquilo que fomos e aquilo que não chegamos a concretizar... No espelho um reflexo de uma pele gasta do suor de uma vida de trabalho e da eterna dedicação à família. O peso das profundas rugas cravadas pela cara de muitos sorrisos indignados perdidos por aí. Os olhos descaídos das visões que jamais irei ter. A cara muda e a juventude vai ficando pelos anos, presa em cada aniversário festejado. As mãos reúnem os calos e a saudade aperta e trás de volta aquilo que nos fez sofrer. Calamos-nos. Acabamos todos calados no silêncio de um quarto gélido, um olhar ternurento fugido pela janela, um corpo aninhado numa cadeira de embalar, onde cansámos as pernas a acarinhar os muitos netos e que agora uso para contar os momentos para a morte, que assim alguém todo poderoso nos destinou a todos. E assim esperamos pelo dia em que fecharemos os olhos e a nossa alma encontrará outro corpo para habitar.. 

Aí tudo será apagado todo o legado de uma vida irá dispersar-se. Voltaremos ao inicio ... ao primeiro passo, à primeira palavra, ao primeiro amor... Voltaremos mais tarde a ser novamente montras da vida. Tornaremos a ser montras vivas, memoriais, sentimentais, loucas e apaixonadas onde vendemos experiências, orgulhos, vivências e historias de outros tempos. Num piscar de olhos o corpo passa de um papel liso a um saco engelhado a nossa cabeça passa de um CD virgem a um sem memória. Olho para o lado e lá está a melhor pessoa com quem partilhei a minha existência, alguém que sobreviveu do meu lado, a pessoa que tem as mesmas memórias que eu, que sente a mesma saudade, alguém que pensou e imaginou comigo. Do meu lado ficou a alma compatível à minha que sempre teve as palavras e os gestos que pela vida fora combinaram comigo. Sentados lado a lado esperamos pela longa viagem na eternidade com a satisfação de uma missão concretizada!

Writen by: Pedro Miguel & Denise Ramos