sábado, dezembro 26

D. Sebastião... Acorda!


Junto ao rio, ia D. Sebastião, passeando a sua coroa de rei, quando me avistou do outro lado da margem, de folhas e pena na mão. Suspirou num breve segundo. Cantava uma melodia. Melodia essa, esquecida desde o tempo dos cavaleiros. Chegara-se perto e debruçara-se de modo a bisbilhotar o que escrevera em tais folhas da cor de sua pele. Parecia-me sentir-se sozinho, pensando nos grandes feitos, ou mesmo, efeitos que teve nas terras que antes dele foram conquistadas. Pensativo... Lia o que escrevia, sorrindo, acenando com a cabeça, apontando dedos de alegria, nas partes que mais estava a gostar de ler. Perguntara o nome do texto. Disse que ainda não sabia. Pois o texto não vem antes, vem depois de o segredo ser revelado por inteiro ou parcial, deixando uma parte de mistério no texto de cada metade de palavras. Esboçou sorrisos, pegou nas minhas folhas, dizendo muito depressa: "Deixai-me ver de perto. Sua escrita é bela!" - Bem. - Respondo eu cabisbaixo, pensando ao mesmo tempo que lhe transmitia a ideia que me ia na cabeça naquele momento. "Não sou nenhum Camões, nem nenhum Bocage, ou Florbela, ou Fernando Pessoa, ou outra figura ilustre no patamar das celebridades da escrita portuguesa." - Um dia quem sabe meu jovem. - Retorquiu, sem desviar os olhos do texto.

Quando olhara para mim, apercebi-me de uma pequena coisa. Um pormenor. Ele sonhava alto. Desejando céus e campos. Vastos, atrás de suas costas (do seu palácio) sem pensar nas fortunas de um rei. Queria algo. Algo que não conseguia encontrar aqui. Pensava ele. Dó, sentia ele, quando no seu quarto olhava para as nuvens, que vestiam o céu num processo repetitivo. Cara de menino rebelde, sonho no coração. Sonho que mais ninguém ousou realizar.

"- Duvidavas, porventura, do meu amor e da minha dedicação?! - Respondeu ela, enquanto o rei a apertava nos braços, como uma bem sua e a beijava longamente, diligenciando deter-lhe mais palavras..." - A Volta Do "Desejado" de Eduardo Faria de 16-10-1940

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